Responda a pergunta: que tipo de pessoa você é? Não, não estou falando de caráter, estou falando do tipo de pessoa que você mostra querer ser, ou ainda, o tipo que os outros aceitam, ou pior, o tipo que você precisa ser. Sim, porque parece que de uns tempos para cá existe uma quase necessidade de mostrar o que muitas vezes não somos, é como se houvesse uma sutil negação de si mesmo.
O que está valendo no momento atual, você já parou para pensar sobre isso? Já parou para pensar em como você é avaliado no seu dia a dia? Quais os critérios utilizados pelas pessoas para lhe receber em seus círculos de amizade? Relacionamentos então...
Pois é meu caro leitor, estamos vivendo em uma ditadura, e acredito que muitos de vocês sabem do que estou falando. Não se trata de regime governamental, entretanto não deixa de ser uma espécie tirânica de uma Sociedade movida a padrões constituídos por modismos muitas vezes impostos pela indústria da beleza, e sustentada pela mídia.
Manter-se saudável é prazeroso? Sim, evidente que é, além de ser uma questão de saúde pública, mas daí querer transformar os frágeis seres humanos que somos, em bonecos de deuses do Olimpo é um pouco demais. Você acha que estou exagerando? Então me responda: quantas embalagens de produtos cosméticos você tem em casa? Quanto você gasta por mês na academia? Quanto de complexos vitamínicos? Quanto de roupas de grife? Sem contar os perigosos anabolizantes. E você mulher, quanto gasta por mês no salão de beleza? Pois é, faça as contas.
Tudo bem, a não ser que você seja um Ronaldo “o fenômeno” (leia-se milhões de dólares), poderá se dar ao luxo de exibir até uma tal “barriguinha”, mas fique calmo, no máximo sua foto ficará exposta por uma semana na mídia, nada mais do que isso. E você acha que ele está preocupado? Mas se acaso esse não for o seu caso, saiba que está a um passo para a exclusão. Mais uma vez estou exagerando?
O que estou querendo dizer com isso? É simples, hoje em dia você vale por aquilo que tem, ou aparenta ter, e não pelo que você é. Na verdade vivemos uma ditadura cruel e silenciosa em relação aos valores reais, onde a ética e a palavra já não valem quase nada. E o que vale? Vale o corpo malhado, os dentes brancos como um iceberg, as unhas impecáveis, o carro do ano, a camisa Armani, os óculos Dolce & Gabbana, é isso que vale. Infelizmente. E o pior de tudo isso é viver em um país onde a distribuição de renda e a desigualdade social estão entre as piores do planeta, e no caso desse texto, as pessoas sentirem a terrível necessidade de se igualarem (nem que for de longe) a uma minoria que dita padrões.
Mais um exagero meu? Então preste atenção, a partir do mês que vem (setembro) fique atento aos veículos de comunicação de mídia, conte quantas vezes você lerá a seguinte manchete “Fulana (ou fulano) dá tudo de si na academia para chegar em forma no verão”. Ou então: “Aprenda uma maneira rápida para endurecer o bumbum, e adquirir músculos para ficar linda (ou lindo)”. E por aí vai. Estará aberta mais uma temporada da beleza física. A indústria dos milagres agradece!
Conclusão: será que não é o caso de sugerir um movimento do tipo “PARADA DO ORGULHO DE SER NORMAL”? Seria demais, não é mesmo, afinal o que é ser normal? Tudo bem, troque as palavras “ser normal” por alguma coisa como “não ser malhado”, ou “não ser sarado”, ou ainda “ser saudável sem ter um tanquinho”. Use a sua imaginação, afinal de contas, Parada agora é moda!
Por favor, não confunda esse texto com alguma coisa do tipo “então quer dizer que devemos ser desleixados?” ou “esse cara que escreveu isso não gosta de beleza”. Não é nada disso, é claro que gosto da beleza, quem não gosta? O propósito do texto é chamar a atenção para os exageros e a exclusão, que no caso do exagero pode gerar doenças como anorexia, e a exclusão pode culminar com rejeição e depressão.
A seguir, uma “palavrinha” de certo político e jurista brasileiro, que também era pensador e escritor, e por que não dizer profeta? Rui Barbosa (1849-1923).
“A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigualmente aos desiguais, na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcionada à desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade... Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real.”
Será que ele exagerou?
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